quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

DIPLOMACIA FRANCESA TENTA QUEBRAR ISOLAMENTO


O SONHO DE FRANÇOIS E A REALIDADE DA TRANFORMAÇÃO.

Quando certa manhã François Hollande acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se metamorfoseado em chefe de uma ofensiva 
militar.

As primeiras linhas do romance “A Metamorfose”, de Franz Kafka, servem de metáfora da transformação drástica da imagem do presidente francês desde que ele que enviou tropas para combater grupos ligados à Al-Qaeda no Mali.

O indisfarçável apreço do socialista pela conciliação deu lugar a discursos assertivos em que promete “destruir os terroristas” na paupérrima ex-colônia francesa na África Ocidental.
Medindo 1m70, um pouco calvo, de óculos e com voz suave, a Hollande tem um aspecto pacato. Destoa da imagem marcial de chefe guerreiro. Essa aparente contradição inspirou uma profusão de charges da imprensa nos últimos dias.
Conduzir uma guerra nunca esteve em seu script, mas o papel foi imposto pela deterioração da situação no Mali. Situada a menos de 2.000 km da Europa, a faixa desértica do norte do país (área equivalente à da Bahia) está sob controle de grupos radicais islâmicos desde o ano passado.

Hollande iniciou a ofensiva na última sexta, antes da formação de uma força multinacional autorizada pelas Nações Unidas. Agora, a diplomacia francesa tenta quebrar o isolamento.
A visão de que o Mali era um problema eminentemente francês começou a ruir anteontem. Um comando terrorista invadiu e fez reféns em uma planta de extração de gás na vizinha Argélia, internacionalizando a crise.
O desfecho trágico, com a morte de reféns de várias nacionalidades, mostrou que pode se repetir em outras instalações de empresas ocidentais no Magreb.

“O que se passa na Argélia justifica a decisão que tomei em nome da França de intervir no Mali”, discursou o presidente François Hollande, ontem à noite.
Eleito há oito meses com a promessa de ser um “presidente normal”, o socialista vinha enfrentando uma gradual erosão de popularidade principalmente pela falta de bons resultados na economia (pouco crescimento e alto desemprego recorde).
Em dezembro, 62% dos franceses desaprovavam o presidente, segundo o instituto BVA Opinion.
A intervenção no Mali reciclou a imagem de Hollande. Segundo pesquisa do mesmo instituto contratada pelo jornal “Le Parisien”, 75% dos franceses estão de acordo com a decisão do presidente.

É um índice superior ao apoio ao envio de tropas ao Afeganistão em 2001 (55%) e os bombardeios à Líbia em 2011 (66%). No parlamento, Hollande encontrou apoio quase unânime.
Tanto no Afeganistão e na Líbia, a aprovação de seus antecessores foi minguando conforme o envolvimento francês se prolongava.
Por ora, no plano doméstico, a ofensiva militar ofusca temas espinhosos para o presidente, como o polêmico projeto do matrimônio gay e anúncio da montadora Renault de que pretende demitir 7.500 empregados até 
2014.

Trinta e quatro reféns e 15 de seus sequestradores extremistas islamitas ligados à Al-Qaeda morreram nesta quinta-feira (17) durante um ataque do Exército da Argélia a um campo de exploração de gás, informou um porta-voz islamita citado pela agência de notícias mauritana Nouakchott Information (ANI).
A rede de TV Al-Jazeera também informou sobre a morte de 34 reféns, citando suas próprias fontes e testemunhas.
Segundo o porta-voz islamita, que afirmou à ANI estar presente no campo de gás próximo a In Amenas, os sequestradores, que exigem a retirada de tropas francesas do vizinho Mali, “tentavam transportar uma parte dos reféns para um local mais seguro em veículos” quando o Exército argelino bombardeou, “matando reféns e sequestradores ao mesmo tempo”.
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Os sequestradores disseram que matariam os restantes sete reféns -3 belgas, 2 americanos, 1 japonês e 1 britânico- caso o Exército se aproximasse, segundo a ANI.
A agência oficial argelina APS afirma que cerca de 600 reféns argelinos, além de dois britânicos, um queniano e um francês, foram libertados durante a operação, sem citar mortes.

Para o jornal “Le Monde”, o DNA monárquico da França persiste nas circunstâncias da República. No passado, um rei só era plenamente rei após a morte de seu antecessor, na diplomacia ou na guerra.
Ironicamente, a guerra conduzida por um homem que deplora o conflito faz muitos franceses terem a impressão de que, enfim, há alguém mandando no Palácio do Eliseu.

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